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quarta-feira, 24 de julho de 2013

A BELA ADORMECIDA - Nicéas Romeo Zanchett


A BELA ADORMECIDA 
 Adaptação: Nicéas Romeo Zanchett 

                 Havia um rei e uma rainha cujo maior sonho era ter um filho que pudesse, um dia, assumir o reinado em seu lugar. 
                  Dizia a rainha: 
                  - Ah! Deus poderia nos conceder a graça de um filho!
                  Mas o tempo passava e seu sonho parecia cada vez mais distante.
                  Um dia, estando a rainha a banhar-se num rio, saltou para junto dela uma rã que lhe disse:  
                   - Não se preocupe, minha rainha, antes de um ano verás seu desejo realizado, pois terás uma filha. 
                   Conforme predisse a rã, depois de alguns meses a rainha teve uma filha, tão linda que o rei ficou louco de alegria.

                   Para comemorar o acontecimento, o rei mandou providenciar uma grande  festa, para a qual convidou não só os parentes e amigos, mas também as fadas para que protegessem sua filha de qualquer mal. No reino havia treze  fadas, mas como só tinha doze pratos de ouro, em que pudessem comer, uma dela não pode ir à festa.  
                    O banquete transcorreu em grande pompa, e, no final, cada uma das fadas presenteou a menina com um dom milagroso; uma deu-lhe virtude, outra formosura, a terceira, riquezas, e assim por diante. Mal a décima primeira fada acabou de falar e eis que entra de repente a décima terceira, que estava muito magoada por não ter sido convidada, e sem saudar ninguém disse em voz alta: 
                   - No dia em que a princesa fizer quinze anos irá se ferir com um tear e cairá morta. 
                   E saiu da sala sem dizer mais nada. Todos os presentes ficaram assustados; mas, então, adiantou-se a decima segunda fada, que ainda não havia dado o presente que lhe correspondia, e, não podendo evitar o mal que sua companheira predissera, procurou aliviá-lo e disse:  
                   - A princesa não morrerá; apenas cairá num profundo sono, que durará um século, e, decorrido esse  tempo, despertará. 

                   O rei, que queria livrar a sua querida filha de tão grande desgraça, deu ordem para todos os teares do reino fossem queimados imediatamente. 
                    A jovem princesa chegou a possuir todas as perfeições que as fadas  lhe haviam concedido, e assim, era muito formosa, amável, modesta, ajuizada, de maneira que todos quantos a viam sentiam grande amor por ela. 
                    Ao chegar o dia em que fazia os quinze anos, a jovem estava só no palácio, sem seus pais; o rei e a rainha tinham saído. Por curiosidade, começou percorrer todos os corredores e salas e acabou chegando a uma torre muito elevada. Subiu uma estreita escada de caracol e chegou a uma portinha. A chave estava no buraco da fechadura e ela a abriu a porta e entrou; no quarto havia uma anciã que estava tecendo o seu linho. 
                    - Bom dia, vovozinha!, disse a princesa. O que está fazendo aqui?  
                    - Estou fiando, respondeu a velhinha baixando a cabeça. 
                    - Que é isso que moves com tanta agilidade? continuou dizendo a pequena adolescente. E logo pegou no  tear para fazer aquele tipo de trabalho que achou muito interessante; mas, tão logo lhe tocou, realizou-se a profecia  ferindo um dedo. 

                    No mesmo instante em que sentiu a picada adormeceu profundamente, e aquele seu sono espalhou-se por todo o palácio. O rei e a rainha, que acabavam de chegar, e também todos os demais membros da corte, adormeceram com ela.  Os cavalos adormeceram  na estrebaria, os cães no pátio, as pombas no telhado; o fogo que ardia no fogão de lenha apagou-se e a comida deixou de ser cozida; também todos os ajudantes e criados adormeceram no mesmo instante.  Ninguém ficou acordado e o reino foi tomado por absoluto silêncio. Até o vento deixou de soprar e nem as folhas das árvores do jardim tornaram a mover-se. 
                     O reino parecia uma cidade morta. Em breve, em torno do palácio, começou a crescer uma mata que a cada dia se tornava mais fechada, até que o cobriu por completo. A bandeira, que estava no alto da torre, foi escondida pela folhagem da mata. 
No país todos contavam a lenda da formosa princesa adormecida e, de vez em quando, alguns príncipes iam até aquele lugar, onde faziam todos os esforços para penetrar no palácio, mas eram impedidos pela floresta fechada; havia muitos espinhos que impediam a passagem como se tivessem mãos segurando quem tentasse. Muitos jovens que forçaram o caminho para  passar acabaram presos aos espinhos e morreram ali mesmo. 
                    Depois de muitos anos, um belo príncipe chegou àquele país e ouviu um velhinho contar a história da princesa adormecida. Ele lhe contou sobre a floresta fechada e o palácio, no qual, a um século, dormia a formosa princesa e todos os habitantes do antigo reino. Ele também alertou o príncipe que seu avô já contava que muitos príncipes tentaram entrar e acabaram morrendo por lá mesmo.
                     Então disse o jovem:  
                    - Eu não tenho medo e chegarei até a bela adormecida. 
                    O bom velhinho ainda tentou dissuadi-lo dessa decisão, mas, como não conseguia, acabou desistindo. 
                    Precisamente neste dia fazia cem anos desde que o fato aconteceu à família real e seus dependentes. Era chegado o momento em que a princesa deveria acordar, mas precisava que alguém a viesse despertar.
                     Quando o príncipe chegou à mata encontrou-a transformada em um lindo roseiral, que abrindo-se ao sol o deixou passar, fechando-se, em seguida, atrás dele. Ao chegar ao pátio e à estrebaria, viu que os animais ainda estavam dormindo; olhou para o telhado e viu os pombos com a cabeça de baixo da asa, e quando entrou no palácio notou que até as moscas estavam adormecidas nas paredes. O cozinheiro estava na cozinha em atitude de chamar os ajudantes e a criada perto de um galo que parecia querer depenar. Um pouco mais longe viu no salão toda a corte a dormir, e o rei e a rainha dormindo nos respectivos tronos.  Tudo estava tão tranquilo que se podia ouvir a respiração de todos.

                     Depois de andar por todo o palácio, chegou à torre, onde dormia a princesa; abriu a porta, entrou e ficou admirando a serenidade e beleza da princesinha. Era tão linda que nem conseguia desviar o olhar. Inclinou-se e tocou-lhe suavemente; e tão logo a tocou, ela abriu os olhos, acordou e ficou olhando-o carinhosamente. Então levantou-se e  juntos desceram para despertar o rei, a rainha e todos os membros da corte, que se entreolhavam sem entender o que havia acontecido. Naquele mesmo momento, os cavalos acordaram nas estrebarias e começaram a relinchar; também os cães balançavam a cauda ao levantar-se, e os pombos  no telhado, tiraram as suas cabecinhas de baixo das asas, olharam em volta e voaram; as moscas recomeçaram a andar pelas paredes no mesmo instante em que o fogo reanimou-se na cozinha e continuou cozendo a comida; o cozinheiro deu um empurrão no ajudante, que começou a chorar, e a criada acabou de depenar o galo. 
                     No dia seguinte o rei mandou preparar uma grande festa para celebrar o casamento da princesinha com o príncipe que veio de longe para despertá-la. 
                     Depois de muitos anos o rei e a rainha morreram, o príncipe assumiu o trono e, então como rei e rainha viveram felizes por muitos anos. 
Nicéas Romeo Zanchett 

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